Aram, a cafeteira que vendeu 253 mil reais sem ter lançado

O polímata Maycon Aram, fundador da Aram, decidiu construir a sua carreira profissional criando produtos artesanais de altíssima qualidade que promovessem uma conexão entre os produtores e os consumidores. Apesar de ter sido bastante premiado criando óculos de sol de madeira, o nicho de mercado que fez ele realmente se destacar foi criando produtos para café. Conheça essa história exclusiva que a Polímatas conta para você.

Boas histórias começam na Página 01*.

Ainda durante a faculdade de design, Maycon começou a desenvolver protótipos de novos produtos. Como tinha feito um curso técnico em mecatrônica, facilmente conseguiu um estágio na área de desenvolvimento de produtos para indústrias. Porém, depois de alguns anos nessa atividade, percebeu que ia ficar “mais ou menos aquilo pro resto da vida”. A partir de então, decidiu sair e procurar outras possibilidades de carreira.

O que começou como um desafio, de aprender a dobrar a madeira para criar óculos de sol, acabou virando seu trabalho de conclusão de curso. O que começou como hobby, acabou atraindo o interesse de amigos próximos, que sugeriam constantemente que ele criasse uma marca para comercializar o produto. A experiência profissional na indústria foi determinante para o que vinha depois. Nas palavras do próprio Maycon, a “industrialização acaba matando uma conexão maior que as pessoas tem com o produto”. Ele estava interessado em fazer alguma coisa com uma vida útil maior, de conceito diferenciado. Estudou um pouco sobre os artesãos e o trabalho artesanal e acabou decidindo em lançar a sua própria linha de óculos artesanais de madeira.

*A Polímatas acredita que toda boa história começa na Página01. Esse é o nome do nosso programa para quem acredita que, antes de empreender, precisa aprender um pouco mais sobre gestão e negócios.

Os óculos de madeira.

A proposta sempre foi fazer produtos extremamente diferenciados. Nos três primeiros anos de empresa, ele só fazia óculos sob medida. O Maycon tirava as medidas do rosto da pessoa e até mesmo desenhava um modelo de acordo com o pedido dela. Ao longo desse período, aprendeu bastante sobre ergonomia e encaixe no rosto. Era o único óculos 100% de madeira do Brasil. A criatividade e o talento do empreendedor foram reconhecidos nos três maiores prêmios de design brasileiros: Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, Salão Design e IDEA Brasil.

Devido ao alto grau de personalização, a capacidade de produção girava em torno de 3 ou 4 óculos por mês. Era muito pouco para sustentar um negócio de verdade. No começo de 2015, o modelo de negócios foi alterado e foi desenvolvida uma linha de óculos para serem vendidos em óticas de luxo. Como a produção não era mais tão customizada, agora era possível produzir de 15 a 20 óculos por mês. Mas, mesmo assim, o negócio acabou não deslanchando. O preço dos óculos – de 2,5 a 3 mil reais – é bastante alto para um país como o nosso e são pouquíssimas as óticas de luxo no país. O único caminho para viabilidade financeira era a exportação, mas para isso era necessário um capital que não existia. A decisão de desistir de um produto tão premiado era difícil, mas precisava ser tomada.

Cafeteira sem energia elétrica.

Mineiro de Juiz de Fora, Maycon havia criado uma linha de produtos para café durante a universidade. O foco era na experiência do usuário, utilizando produtos manuais, com texturas e materiais diferentes que dessem prazer não só ao saborear a bebida, mas também ao prepará-la. Logo depois que desistiu dos óculos, decidiu tentar esse novo nicho de mercado.

Assim que desenvolveu a ideia da primeira cafeteira, que era bem diferente do modelo atual, verificou que precisaria de uma quantia considerável de dinheiro para colocar o projeto de pé. Decidiu tentar levantar o capital através de financiamento coletivo. Foi atrás de um conhecido, que era dono de um respeitado café de Curitiba, para pensar nas recompensas para quem colaborasse com o projeto. A parceria foi tão boa que Juca Esmanhoto acabou se tornando sócio da empreitada.

Na primeira versão, a cafeteira ia utilizar eletricidade. Porém, ao descobrirem que isso a faria ser classificada como eletrodoméstico e precisaria de um selo do Inmetro que custa cerca de 30 mil reais por ano para poder ser comercializada, chegaram a conclusão que isso inviabilizaria o produto. Para não deixar a ideia morrer, inovaram e refizeram a cafeteira sem utilizar energia elétrica. Isso fez com que ela ficasse muito menor e pudesse ser portátil.

A campanha de financiamento coletivo.

Como eles não tinham nenhum capital para investir na criação, fizeram parceria com uma agência de design e uma produtora de vídeo de onde para desenvolvimento dos materiais de divulgação. As duas outras empresas iriam correr o risco junto com a Aram e só receberiam seus pagamentos se o projeto desse certo. Os 35 mil reais que colocaram como meta do projeto pareciam quase impossíveis de conseguir, mas era o mínimo para tirar a ideia do papel.

A campanha foi para o ar em uma segunda-feira do mês outubro de 2016, com duração de 45 dias. Os valores de contribuição eram altos, cerca de 900 reais para participar da campanha e ganhar a cafeteira. Eles não tinham muitas redes de contato, só divulgaram no Facebook e para algumas pessoas conhecidas que também trabalhavam com café. Entretanto, por alguma razão que nem mesmo os empreendedores sabem explicar, o projeto bateu a meta em apenas 36 horas. Criaram novos objetivos e a campanha vendeu cerca de 300 cafeteiras, quase 10 vezes mais do que eles esperavam originalmente. Com 253 mil reais em recursos levantados, ela também está entre as 10 maiores da história do Catarse.

Os próximos passos.

Quando criaram o projeto, acreditavam que a maior dificuldade seria a venda. No final das contas, acabou sendo a produção. Devido a um problema com os fornecedores, que ainda não estavam preparados para as necessidades da Aram, a entrega acabou atrasando. A estimativa inicial era dezembro de 2016, mas acabou ficando para abril do ano seguinte.

Depois da entrega das cafeteiras prometidas, eles pretendem começar a comercializar o produto. Respeitando o conceito diferenciado e artesanal do produto, a venda também vai ser realizada de uma forma única. Os detalhes de como isso vai acontecer ainda não foram abertos ao públicos, mas a ideia é criar uma experiência de venda que fuja um pouco da impessoalidade dos padrões convencionais. Também ao longo de 2017, devem começar o trabalho para exportar o produto. Para isso, vão utilizar o capital de um investidor que veio atrás deles porque enxergou um grande potencial no produto devido à resposta da campanha de financiamento coletivo.

Quer conhecer mais sobre os aprendizados e erros que o Maycon teve empreendendo a Aram? Venha conversar com ele e outros 5 empreendedores de sucesso no Epistemia. Lá, você terá a oportunidade de fazer perguntas sobre empreendedorismo que sempre quis fazer para fundadores de empresas responderem com o que aprenderam fazendo acontecer.

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