ASID, a ONG que ajuda a melhorar a gestão de outras ONGs

A Ação Social para Igualdade das Diferenças (ASID Brasil) é uma ONG de Curitiba que atua no apoio e melhoria da gestão de outras instituições do terceiro setor focadas no desenvolvimento de pessoas com deficiência. A Polímatas conversou com Alexandre Amorim, um dos empreendedores que deu vida ao projeto, e preparou esse conteúdo exclusivo que é uma fonte de pura inspiração e aprendizado para qualquer empreendedor.

O embrião da ASID Brasil, uma ONG que melhora a gestão de instituições que apoiam pessoas com deficiência, surgiu em um trabalho que Alexandre Amorim precisou fazer para a faculdade. Ele convidou Luiz Hamilton e outros dois colegas da empresa júnior para darem vida ao projeto. Por cerca de oito meses, o grupo tinha reuniões periódicas no final de semana para desenvolver uma metodologia de diagnóstico e melhoria de gestão para o terceiro setor.

Mais ou menos na metade de 2009, o Luiz mostrou para o grupo uma reportagem de uma escola de educação especial que precisava de ajuda e decidiram dar o primeiro passo para transformar o projeto em realidade. Marcaram uma conversa com a presidente da mantenedora, mas deu tudo errado. O Alexandre teve um ataque de pressão alta porque estava muito ansioso para a reunião e precisou ir para o hospital. Acabaram chegando atrasados. O filho da responsável, que tem autismo, queria ir embora e ficava batendo neles. Apesar de tudo, por alguma razão, a gestora gostou deles e topou participar do projeto.

Os quatro envolvidos no projeto tinham menos de 20 anos. Não tinham muito conhecimento, mas estudavam bastante e ajudavam no que podiam. Um das iniciativas foi tentar arrecadar fundos para a escola. O resultado foi ruim, só conseguiram 340 reais. Porém, para executar o projeto, eles tiveram que criar uma cara para a ASID, com logomarca e cartões de visita. O resultado do trabalho feito junto à instituição e a nova identidade de marca deram uma injeção de ânimo para os empreendedores e os fez tomar uma grande decisão.

Tudo ou nada.

O momento de se dedicar exclusivamente ao projeto.

Em fevereiro de 2010, decidiram que para o projeto ir para frente, tinham que se dedicar exclusivamente a ele. O Alexandre e o Luiz largaram seus empregos. As outras duas pessoas envolvidas até o momento não podiam ficar sem renda por tempo indeterminado e decidiram se afastar da ASID. Entretanto, por questões burocráticas para a constituição de uma ONG, eles precisam de no mínimo três pessoas. Foi nesse momento que entrou na equipe de fundadores o Diego Tutumi.

A frente de trabalho junto às instituições estava indo muito bem. O progresso da primeira instituição que eles ajudaram era claro e haviam outras interessadas no serviço prestado. A metodologia que eles haviam criado foi sendo aprimorada e recebeu o nome de Índice de Desenvolvimento de Educação Especial (IDEE).

Por outro lado, eles não tinham receita. Nenhuma das empresas que eles abordavam se mostrava interessada em doar dinheiro para sustentar as operações da ASID. Os três empreendedores fizeram bicos lavando louça em restaurante e entregando panfletos no sinal para terem algum dinheiro. Eventualmente, receberam uma doação da Bematech de uns computadores velhos que poderiam fazer o que quisessem. Venderam o equipamento e fecharam o ano de 2010 com faturamento de 950 reais. O peso de ter largado seus empregos em multinacionais para empreender no terceiro setor ficava cada vez maior e a pressão só aumentava.

Depois de 16 meses, o primeiro cliente.

O ano de 2011 começou agitado. Já no dia 4 de janeiro, uma pessoa de uma grande empresa de telefonia ligou para eles pedindo uma reunião ainda naquela semana. Eles fizeram de tudo para fechar o negócio, mas acabou não dando nenhum resultado naquele momento. Em abril, um conhecido que doava uma parte do salário para instituições de caridade resolver destinar o dinheiro para a ASID por alguns meses. No mês seguinte, uma cooperativa de médicos doou 3 mil reais. O valor foi extremamente bem vindo porque com ele era possível pagar transporte e algumas despesas básicas da ONG, mas ainda estava longe de poder pagar um salário para o trio de empreendedores.

Foi somente em agosto que aquela reunião do começo do ano deu resultado. Eles fecharam um grande projeto de voluntariado corporativo com aquele cliente e aí eles começaram a colher os frutos de tantos meses de trabalho. A atividade foi um sucesso. Os próprios funcionários da empresa pediram novos projetos como aquele. Durante a ação, uma senhora que passeava com o cachorro quis saber o que eles estavam fazendo. Ela era gerente do instituto de uma montadora de carros e acabou se tornando cliente da ASID logo em seguida.

O reconhecimento nacional do trabalho da ASID.

Até fechar seu primeiro contrato, a ASID precisou de 16 meses de trabalho e foi recusada por 88 empresas diferentes. Segundo o Alexandre Amorim

a grande virada de chave foi quando a gente percebeu que não adiantava você chegar lá e falar ‘olha, tem uma instituição que está precisando’ porque a empresa não está nem aí pra isso. Se você não gerasse algum resultado para a empresa, não ia nada pra frente.

A partir desse momento, eles pararam de tentar captar dinheiro para fazer projetos legais e começaram a criar projetos ainda melhores com o apoio de colaboradores, know-how e/ou tecnologia das empresas parceiras.

Hoje são três os produtos no portfólio. O mais vendido são os projetos de voluntariado corporativo. Já os projetos para melhorar a gestão de instituições que os clientes já apoiam são um pouco mais raros. Existe também um novo produto para ajudar empresas a incluir pessoas com deficiência no seu quadro de funcionários.

Depois de acertar a proposta de valor e o modelo de negócios, as coisas deslancharam de forma impressionante. O número de clientes cresceu e os projetos aumentaram de tamanho. O reconhecimento acabou vindo de forma natural. Já foram 10 prêmios recebidos. Dentre os mais relevantes, podemos citar o Prêmio Empreendedor Social de Futuro da Folha de São Paulo em 2013 e o Prêmio Jovens Inspiradores da revista Veja em 2014. Os empreendedores também já ganharam bolsas de estudo em instituições como Harvard, Stanford e INSEAD.

A expansão para fora de Curitiba.

Ao longo do tempo, a ASID foi revisando o IDEE para prestar mais serviços e com qualidade melhor para as instituições que trabalham com pessoas com deficiência. Recentemente, fecharam uma parceria com a SAP Global para transformar a metodologia em uma tecnologia que possa ser replicada no Brasil e no mundo.

Já são mais de 6 mil pessoas impactadas, sendo que pelo menos metade deste total são pessoas com deficiência. Os 25 funcionários da ONG atendem cerca de 80% das instituições de ensino e atendimento a pessoas com deficiência de Curitiba e região. O espaço para crescimento estava cada vez mais restrito e a equipe decidiu abrir um escritório na cidade de São Paulo. Depois de mais de um ano de planejamento, decidiram fazer uma coisa incomum para o terceiro setor. Tomaram um empréstimo com membros do seu conselho para financiar o início das operações na nova localidade sem afetar o caixa da empresa.

O resultado está aparecendo. Já fecharam 5 projetos com empresas parceiras e existe uma fila de instituições que precisam do apoio da ASID. Em breve mais um funcionário de Curitiba será remanejado para São Paulo e ainda será preciso contratar mais duas pessoas de lá.

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