Escola de Criatividade, ícone de empreendedorismo criativo em Curitiba

Com um portfólio de clientes que inclui grandes instituições como Boticário, Confederação Nacional da Indústria, Bayer, Mondelez e Sebrae Nacional, seguramente a Escola de Criatividade pode ser considerada um ícone do empreendedorismo criativo em Curitiba. Nós conversamos com a Livia Kohiyama, uma das fundadoras, para trazer alguns dos aprendizados que eles tiveram ao longo dessa trajetória empreendedora.

Depois de participar da organização de um Fórum Mundial Econômico em Davos que teve como tema a Criatividade, Jean Sigel voltou para o país com o desejo de organizar trazer a discussão de alto nível sobre o mesmo assunto aqui para o Brasil. Ao apresentar a ideia para seu amigo Eloi Zanetti, ex-diretor de marketing do Boticário, ouviu como resposta:

Pra entrar no mar, você não pode entrar por um rio grande, você entra por um rio pequenininho.

Logo em seguida, convidaram a Livia Kohiyama para ajudar a empreender o projeto que dali em diante se chamaria Escola de Criatividade. O negócio tinha como objetivo ensinar inovação e criatividade no ambiente corporativo.

No início, as coisas foram acontecendo de forma orgânica. O projeto, que era novidade, atraía bastante a atenção de pessoas e empresas. Apesar de ter iniciado os projetos em 2009, a Escola de Criatividade mostrou a sua cara para o público pela primeira vez em 2010, no Festival 15×15. A partir de então, os trabalhos simplesmente apareciam por meio de indicações.

Metodologia de ensino da Escola de Criatividade.

À medida que a quantidade de projetos executados foi aumentando, a necessidade de uma maior organização foi surgindo. Além de processos internos, foi construída uma metodologia para estimular o pensar criativo, apelidada de Hábitos Criativos. Segundo a Livia Kohiyama, essa é a base de trabalho para o desenvolvimento de todos os cursos e atividades da Escola de Criatividade, que sempre são imaginados e criados a partir destes 30 hábitos.

Quando um nova venda é fechada, a Escola de Criatividade vai até os clientes e conversa com o máximo de pessoas possível para entender o real problema da empresa. Eles fazem muitas perguntas e escutam as histórias que cada um tem a contar. Na maioria dos casos, o problema está escondido entre as pessoas. O desafio é descobrir a verdadeira dificuldade para ajudar a solucioná-la através da criatividade. A partir deste ponto, eles selecionam alguns hábitos criativos para trabalhar com o grupo e ensinar como aplicá-los na prática. Muito mais do que simplesmente falar, os cursos ensinam a criatividade por meio de bastante trabalho prático e experiências vivenciais, mostrando como viver cada hábito selecionado no dia a dia.

Nessa época, quase nenhum esforço de vendas se mostrava necessário e os três criativos empreendendo o projeto tinham suas mentes livres para fazer o que sabem de melhor – imaginar e criar. As coisas iam muito bem… até o dia que não foi mais bem assim.

Um ano de grandes mudanças.

2014 começou agitado. A entrada de um novo sócio, dono de um know-how maior em gestão do que os três criativos que iniciaram o projeto, deu um impulso extra nos negócios. No mesmo período, um dos fundadores anunciou sua gradativa saída das operações diárias para se dedicar a uma nova fase de vida, e foi morar num paraíso no interior de Minas Gerais. O que tinha tudo pra ser um ano desafiador, logo se transformou em um ano difícil, pra dizer o mínimo.

O ano da Copa do Mundo foi duro para todo mundo. Era o começo da crise, muitos feriados devido ao evento esportivo e na sequência uma polarizada eleição presidencial. O Brasil parou. Os trabalhos começaram a diminuir consideravelmente. Segundo a opinião da Livia, talvez um dos maiores erros aprendizados foi ter tido um início com muita ajuda de parceiros que acreditaram nas nossas ideias de transformação pela criatividade e isso estimulou toda a equipe a sempre estar criando sem pensar muito no negócio. Até essa data, eles nunca haviam se preocupado em realizar vendas ativas. Mas agora não ia ter jeito. As coisas precisavam mudar bastante.

A partir desse momento, uma grande mudança na organização da divulgação e venda dos trabalhos se mostrava urgente. Quando eles pararam para preparar os materiais de venda da Escola de Criatividade, perceberam que havia mais de 20 produtos no portfólio. Vários deles com conceitos super legais, mas que nunca tinham conseguido fechar uma venda sequer. “Cortar gordura é fácil”, me disse Livia, parafraseando um ensinamento do Eloi. “O difícil mesmo é cortar na carne”. Foi justamente o fizeram. Tomaram a difícil decisão de parar com os eventos abertos – curso-espetáculo de criatividade e o 15×15 Empreendedorismo Criativo. Eles consideravam estes dois produtos “a menina dos olhos” da organização, porque já estavam consolidados no mercado, contavam com público cativo e todo mundo adorava trabalhar nesses projetos. Mas a verdade é que eles davam muito trabalho e o retorno já não era mais o mesmo. “Doeu, mas tivemos que admitir para nós mesmos que nosso filho não era tão bonito… que ele era feio mesmo!”. A nota de corte para decidir o que ficava e o que tinha que ir era simples: o que vendia, continuava na prateleira, o que não vendia, por mais legal que fosse, tinha que ficar guardado no fundo do baú.

Hoje, depois desse processo de enxugar a estrutura, eles trabalham apenas dois produtos: Pensar Criativo – cursos e oficinas sobre criatividade, e Turismo Criativo – cursos e consultoria sobre criatividade no turismo. Apesar de ter simplificado o portfólio de produtos e iniciado o trabalho de vendas ativas, o processo de conseguir clientes ainda não atingiu todo seu potencial. Vender não é a atividade que dá prazer aos sócios, eles gostam mesmo é de imaginar e criar soluções para os problemas dos seus clientes. Não deve surpreender ninguém que em uma empresa chamada Escola de Criatividade, todos acreditem que criar é mais fácil que vender.

Próximos capítulos.

O plano da Escola de Criatividade é a organização da segunda edição do Festival Mundial de Criatividade, que tem a previsão de acontecer em outubro de 2017 em Curitiba. A premiére aconteceu em 2013 com muito sucesso. Em 2015 tentaram realizar uma segunda edição, mas tiveram que tomar outra difícil decisão e adiaram o evento em função da dificuldade de captar patrocínio. Isso não desestimulou ninguém, apenas deixou o sonho um pouco mais distante.

O lado positivo da mudança de data foi a possibilidade de criar dois projetos-filhotes do festival – uma coletânea de livros e um documentário, ambos sobre criatividade. “Às vezes não entendemos porque as coisas não acontecem como queremos. Mas com o tempo e reflexão, aprendemos que certas coisas só acontecem quando estamos verdadeiramente preparados”, ensina Livia Kohiyama.

Related Articles